Margo acordou cedo no outro dia, saiu sem ao menos se
despedir, apenas deixou um pouco de café perto da minha cama e um bilhete
escrito:
“Agora eu sei onde posso te encontrar.
Com carinho,
Margo.
PS: Eu irei voltar,
só não espere.”
“Eu irei voltar, só não espere”, “O que ela mais gostava era
de mistérios e acabou virando um” algo assim que diz no livro do John, às vezes
penso que ele escreveu para ela, mas acho que ela se inspirou nele.
Margo, mais uma vez me deixou cheio de perguntas, cheio de
curiosidade, cheio de amor, mais uma vez ela me deixou. Nunca vou entender o
fato de esse ir e vir dela, até entendo que ela nunca vai ser do tipo de ficar
em um lugar só por muito tempo, e nem do tipo que vai se prender por um amor -
ela me disse na noite passada que já se prendeu demais e nenhuma valeu a pena,
então ela tinha resolvido nunca mais fazer isso, inclusive, ela tinha decidido
tomar essa decisão na noite em que quase se conhecemos-, a única certeza que eu
podia ter e que ela iria voltar, só não podia esperar.
O cheiro dela ficou pela casa, ficou em minha blusa, nos
lençóis e no travesseiro. Ela tinha permanecido ali por pouco tempo, mas
parecia que ela ainda estava ali. Já que não havia mais o que ser feito eu
resolvi então ir trabalhar, resolvi deixar o dia normal, não igual ontem, mas
igual há todos os dias desde quando eu a vi pela primeira vez!
Tudo havia ocorrido normal no meu dia, até que eu chego em
casa e me deparo com a janela aberta, logo penso em chamar a policia mas me lembro
que Margo iria voltar, e ela não era do tipo de esperar alguém chegar para que
ela entrasse, ainda mais quando era alguém que ela sabia que não iria se
importar se ela entrasse em sua casa e ficasse por lá. Mas dessa vez era
diferente, Margo tinha deixado uma pista, não era exatamente uma pista, era
mais algo tipo “eu estive aqui”, ela me deixou uma pétala de rosa, o incrível
foi que ela deixou em cima do balcão da cozinha. Não era muita a cara de Margo
gostar de rosas, mas se fossemos ver que ela era linda como uma flor por dentro
e por fora era cheia de espinhos, poderíamos compara-la com uma. Peguei a pétala e guardei ela dentro de uma
caixinha que eu tenho no meu criado mudo, junto com o bilhete de hoje de manhã,
fui tomar um banho, tentar esquecer um pouco disso tudo e apenas deixar que
tudo fique tranquilo.
O dia já terminou e a noite começou a chegar, estou muito
cansado, preciso de um ar. Resolvo sair, vou dar uma volta pela cidade, é
claro, passei naquele barzinho, mas dessa vez era diferente, não fui lá por
conta de Margo e nem esperar que ela parecesse por lá, fui lá por causa que
nada que uma dose não resolve certo ?
Hoje foi tudo tranquilo, não tive aquela sensação de
encontrá-la como eu estava tendo nos últimos dias, foi tudo normal. Não vou
dizer que não teve pensamentos em Margo, porque teve sim, ela nunca vai sair de dentro de mim, mas era
diferente, hoje eu já sabia que alguma hora ela iria aparecer, não sabia
quando, nem a hora, mas eu sabia que a qualquer momento eu poderia chegar em
casa e ela estaria lá, ou ela teria passado por lá e ter deixado alguma pista.
Hoje eu já sabia que ela iria começar o ir e vir, e que nunca iria parar.
Talvez um dia ela decida ficar, ou talvez ir de uma vez por todas, mas
estávamos só começando, o final estava muito longe ainda. Acredito que não irá
ter final, mas eu sei que esse dia está muito longe de acontecer, Margo ainda
era apenas uma jovem que queria ser livre, que queria aproveitar sua liberdade
enquanto podia, ela apenas queria voar, voar para bem longe, longe de tudo que
a faria sofrer e de toda a sua realidade medíocre que ela tinha. Margo era
apenas uma garota de 19 anos querendo se encontrar em um mundo onde ela não
fazia parte.
-Vitória Medeiros.